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Jornal GGN

November 2022

Bolsonaro entregou setor energético aos britânicos, por Marcus Atalla

Jornal independente revela reuniões entre presidente brasileiro, petrolíferas britânicas e agentes de Estado

Documentos obtidos pela Lei inglesa de Liberdade de Informação expuseram encontros secretos de Bolsonaro com agentes do Estado britânico e representantes das companhias petrolíferas, num acordo lesivo ao povo e à nação brasileira.

Em 10 de abril de 2018, após cinco dias da prisão política de Lula, o candidato BolsonaroEduardo Bolsonaro e um assessor não identificado encontraram-se com o embaixador do Reino Unido, Vijay Rangarajan na embaixada britânica em Brasília.

Documentos registram que, no mesmo dia 10, a secretária-chefe do tesouro e recente ex-primeira-ministra Liz Truss esteve na embaixada britânica em Brasília. Ela chegou ao Brasil no dia 9, para “promover o livre comércio, mercados livres e oportunidades pós-Brexit”. Sua agenda foi de reuniões com autoridades brasileiras a fim de discutir privatizações.

Seus relatórios afirmam haver um novo interesse por um “mercado aberto” no Brasil, o qual tem enormes “reservas de petróleo e gás”. Uma das visitas de Truss foi ao Instituto Milleniumthink tank neoliberal, que mantém intrínsecas relações com a Rede Globo e co-fundada por Paulo Guedes em 2005. Ela também se encontrou com seu antigo empregador, a Shell, a qual se orgulha de sua produção de petróleo e gás no Pré-sal.

Passados dois meses, o embaixador Rangarajan convidou o candidato Bolsonaro a sua residência em Brasília, onde lhe apresentaria “Parceiros Estratégicos”. Participaram mais de 20 pessoas, incluindo diretores de empresas britânicas de petróleo, mineração, farmacêutica e construção. Destacando a Anglo-AmericanBPShellUnileverJCB AstraZeneca – fabricante da vacina a qual Bolsonaro, no ano seguinte, daria preferência no início da pandemia em detrimento da Sinovac/Butantan, imunizante difamado por Bolsonaro e filhos em declarações à imprensa.

Em 14 de novembro, o agora eleito Bolsonaro, o vice-presidente e General Hamilton Mourão, o General Augusto Heleno (GSI) e os dois filhos de Bolsonaro se encontraram novamente com Rangarajan. O Ministério das Relações Exterior britânico se recusou a divulgar o teor da discussão na reunião. De 2018 a 2019 foram mais de 20 reuniões entre a BP, a Shell e o embaixador Rangarajam.

Relatou documento britânico: “O Reino Unido está bem posicionado para responder às oportunidades ampliadas que provavelmente surgirão se as reformas nesses setores forem bem-sucedidas no Brasil”.

Bolsonaro na Presidência e Guedes no Ministério da Economia

O programa do Reino Unido é executado através do Prosperity Fund, o projeto de “ajuda” iniciou-se em 2018, com um aporte de £ 56 milhões e dividido em 4 partes. O objetivo “declarado” seria apoiar “a abertura econômica e a infraestrutura sustentável do Brasil”, criar um “mercado de energia mais competitivo e eficiente”, pressionar pela liberação do mercado de petróleo e gás”. O que os documentos eufemisticamente declaram como “abertura” e “criar”, é privatizar.

Agora, o programa é administrado pelo Ministério das Relações Exteriores britânico. Segundo os gerentes, o programa “passou por uma mudança considerável no contexto político, resultado da mudança de governo brasileiro”. Sob o Governo Bolsonaro, “as políticas do governo brasileiro mudaram ou ficaram mais claras”, “houve um impulso maior nas reformas econômicas liberais” e o presidente iniciou “um esforço para reformar o setor de energia”.

A equipe do programa afirmou que o Reino Unido foi “capaz de responder efetivamente a essa mudança como resultado de… fortes vínculos” com o governo Bolsonaro. Concluiu-se que as “áreas críticas da agenda de reformas no Brasil puderam ser ampliadas pelo apoio direcionado de parceiros, incluindo o Reino Unido.”

Em 2020, O CEO da Petro-Victory Energy, Richard Gonzalez escreveu, Bolsonaro está “encorajando o investimento estrangeiro com ênfase no setor de energia” e “criou um setor de petróleo e gás mais dinâmico, livre do monopólio da Petrobras que definiu o mercado por tanto tempo”.

Em setembro de 2021, após o início do programa, o ministro da economia Paulo Guedes disse que planejava privatizar a Petrobras dentro de uma década. A privatização da Petrobras “está no nosso radar”, disse Bolsonaro.

Os documentos observam: “A Prosperidade do Reino Unido é promovida pela abertura de mercados, impulsionando a reforma econômica e defendendo os negócios britânicos”. O Prosperity Fund beneficiou significativamente os negócios britânicos no Brasil. Um funcionário relatou ao secretário de Relações Exteriores inglês; “o Prosperity Fund foi um divisor de águas para o nosso relacionamento com o poderoso ministério da economia e com todo o governo Bolsonaro”.

Segundo dados da Transactional Track Record (TTR), o Reino Unido tornou-se o terceiro maior investidor em fusões e aquisições em solo brasileiro em 2021, atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina. Estudo da Redirection International apontam que os cinco setores de maior investimento britânico em operações de fusões e aquisições são: Financeiro (10%), Tecnologia (9,8%), Óleo e Gás (8,8%), Energia (7,8%) e Mineração (5,9%).

Bolsonaro prometeu que, se reeleito, iria “prosseguir com o reordenamento do papel do Estado brasileiro na economia, aumentando as privatizações e desinvestindo nas empresas estatais”.

Não é surpreendente que o primeiro anúncio do Governo Bolsonaro, logo após perder as eleições, tenha sido uma hiperdistribuição de R$ 43,7 bilhões em dividendos a acionistas da Petrobras.


Source: Jornal GGN  


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