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January 2013

Crescimento no ano

Setor manteve ritmo de crescimento em relação a 2012. Segmentos mais procurados são os ligados à internet e tecnologia

Os investimentos em start-ups brasileiras mantiveram o ritmo de crescimento neste ano, em relação a 2012, apesar do cenário atual de inflação, protestos e economia com crescimento aquém do esperado. Ainda que esses fatores tenham afetado as expectativas dos investidores, gerando dúvidas, especialistas afirmam que, no curto prazo, não há preocupações quanto à influência de fatores macroeconômicos neste setor. Prova disso são as informações relacionadas ao mercado, que apontam para uma tendência de crescimento dos investimentos em capital semente.

De acordo com dados da TTR (Transactional Track Record), de janeiro a novembro de 2013, o valor total investido por Venture Capital em start-ups brasileiras chega a, aproximadamente, R$ 498,46 milhões. Deste valor, R$ 326,37 milhões são investidos por fundos estrangeiros e R$ 172,09 milhões são investidos por fundos nacionais. Quando se analisa a América Latina, sem o Brasil, o valor total de investimentos em start-ups é de R$ 308,03 milhões.

No entanto, mesmo investindo um valor menor em relação aos fundos estrangeiros, os brasileiros investiram em mais empresas nesse ano. Levando em conta os dados de investimento em empresas nascentes e de venture capital, foram feitas 127 rodadas de investimento no total, de janeiro a novembro de 2013.

Ao se considerar que um investidor aportou mais de uma vez na mesma start-up, este ano foram realizados cerca de 68 investimentos, o que representa 54% do total, por investidores nacionais. Enquanto isso, os estrangeiros chegaram a 59 (46% do total). Desses, 36 vieram dos EUA e 12 da Alemanha. Ainda de acordo com estes dados, os setores que mais receberam investimentos estão ligados à internet (44 aportes) e tecnologia (23 aportes).

Para Wagner Rodrigues, especialista em business intelligence da TTR, o cenário brasileiro é positivo. "O contexto é favorável ao consumo interno no Brasil, gerando oportunidades para a criação de novos negócios, somado ao surgimento de incubadoras e aceleradoras. E do outro lado, o trabalho de organizações que fomentam os investimentos anjo", afirma.

Dentre os 10 Venture Capital que mais investiram nas empresas nacionais, seis são grupos brasileiros: Monashees Capital, Papaya Ventures, Grid Investments, e.Bricks Digital, TOTVS Ventures e a Anjos do Brasil.

Segundo o estudo mais recente realizado pela Anjos do Brasil, os investimentos em start-ups podem ser ainda mais altos do que os dados da TTR. "Estimamos perto de R$ 600 milhões o total de investimentos anjo efetivados no Brasil neste ano", afirma Cássio Spina, presidente da Anjos do Brasil. Atualmente, há um número aproximado de 6,45 mil investidores anjo no país. O valor médio aportado por investidor em 2013 foi de R$ 96 mil. A estimativa da entidade é que o valor total dos investimentos já tenha atingido R$ 619 milhões. O potencial de crescimento do valor de investimentos anjo no Brasil é de 20% ao ano.

Para Cássio, as expectativas deste mercado foram atendidas. "Temos um crescimento rápido, mesmo com muitos desafios. Ainda é necessário um trabalho grande para se usar todo o potencial que o Brasil tem. Não se compara aos EUA, com mais de US$ 20 bilhões de dólares investidos anualmente". Os dados levantados pela entidade apontam que o verdadeiro potencial atual deste tipo de investimento para o país inteiro, até o final de 2014, possa alcançar US$ 1,35 bilhão (R$ 3,1 bilhões). A maioria dos investidores anjo tem interesse em investir em startups das áreas de TI e de aplicativos para smartphones. Saúde, educação e entretenimento são outras áreas de interesse apontadas.

Desafios à inovação - Quatro desafios ao desenvolvimento dos investimentos são destacados por quem conhece o setor: capacitação e qualificação dos empreendedores; conhecimento dos modelos jurídicos de investimento e das leis relacionadas; falta de incentivos para investidores atuarem com start-ups e, no caso do investimento anjo, o desconhecimento de potenciais investidores.

Juliano Seabra, diretor executivo da Endeavor Brasil, enxerga a tendência de crescimento dos investimentos em capital semente, mas também ressalta como desafio da área "encontrar empreendedores com capacitação, boa base de conhecimentos, experiência no campo de atuação e entendimento da linguagem de mercado". Juliano faz ressalvas de que o risco legal que esses investidores correm, além da chance de não terem lucro, acaba impedindo o crescimento do mercado. "O negócio tem uma função social inegável, mas ele (investidor) ainda é punido para além do investimento que fez. O fato de correr o risco de pagar um 'pedágio' a mais, um passivo trabalhista, ou algo do gênero porque a empresa investida fracassou, começa a tornar o cenário um pouco mais avesso", explica.

Mesmo com estes fatores, para ele 2013 foi um ano de consolidação da cultura dos investimentos em capital semente no país. "Começamos a ver uma multiplicação muito clara de pessoas investindo recursos em novos empreendedores, em pessoas físicas e as associações ganhando mais força", afirma.
Francisco Britto, presidente do Instituto Talento Brasil, destaca que a inovação traz ao país benefícios variados, desde o desenvolvimento de uma solução que gera economia na produção e na escala, até a mão-de-obra especializada. "A expectativa cresceu de maneira absurda. A perspectiva, em relação a 2012, praticamente dobrou de tamanho. Nos últimos três anos, ela vem crescendo em progressão geométrica. Basta ver o número de exemplos de empresas que estão dando certo. Isso estimula investimentos", diz.

Para ele, no entanto, não há mais um "brilho nos olhos" dos investidores estrangeiros para o Brasil. Esses investimentos têm se concentrado em empresas já maduras. "Falamos em empresas com valores acima de R$ 30 milhões de faturamento. Os fundos de pensão estão um pouco abaixo disso, em torno de R$20 milhões. O BNDES investe desde empresas 'do zero', até empresas com R$ 400 milhões. O FINEP investe desde o início também. E os family office's e outros tipos de investidores estão em torno de R$ 5 milhões, ou mais.", ele explica.

Perspectivas para investidores - Para Rodrigues, os investidores têm encontrado um cenário de variedade no momento de optar por um investimento em capital nascente. "Do ponto de vista destes investidores, existem cada vez mais opções, com cada vez mais informações e análises disponíveis sobre o modelo de negócio e potencial de cada um. As aceleradoras e incubadoras de startups estão contribuindo muito neste sentido", explica Wagner, da TTR. "O nascimento de organizações como a Anjos do Brasil ajuda a atrair cada vez mais investidores com este perfil", diz.

Para Britto, o Brasil está em um bom momento. "O ano foi ótimo para este tipo de investimento (em capital semente). Por mais que não estejamos como gostaríamos, com relação à economia brasileira, nós estamos andando para frente. O capital semente se profissionalizou. Hoje, há um respeito muito maior à governança e ao princípio de desenvolvimento", afirma.

Por outro lado, Seabra enxerga um ambiente sensível. "Enquanto tivermos um cenário de consolidação deste ambiente empreendedor, será favorável fazer investimentos de risco. Se houver algum problema na economia e a taxa de juros subir muito, isso acabará inibindo investimentos", ele diz. A renda fixa, neste caso, se tornaria mais atrativa, segundo ele.

Para ele, a atual elevação da taxa Selic e a política do Federal Reserve, nos EUA, de reduzir a compra mensal dos títulos públicos, ainda não terão impactos significativos. "Falamos de um tipo de empreendedor inovador, com alto crescimento e com retornos potenciais mais altos do que isso. A menos que haja grande mudança nestas políticas, não vejo problemas".


Participações - http://participacoes.com.br/empresas/1537-crescimento-no-ano.html


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