TTR In The Press

Rede Globo

September 2014

Fundos apostam cada vez mais no futuro das empresas

Em novo ciclo de captação, setor já investiu R$ 14 bi este ano

RIO e SÃO PAULO - Enquanto no mercado financeiro o pessimismo com o Brasil se alastra, outro tipo de investidor aposta alto no país. Fundos especializados em comprar participações em empresas, conhecidos como "private equity", promovem rodada bilionária de captação de recursos para aplicar em companhias brasileiras. As empresas, por sua vez, veem nesse investidor importante fonte de financiamento para crescer, em meio a uma Bolsa instável em ano eleitoral, sem nenhum registro de abertura de capital desde janeiro, e diante de juros para empréstimos nas alturas.

 Andreas Diegues (esquerda), criador do Click Jogos, e Gui Barthel, diretor CEO do Grupo NZN) Foto: Divulgação

Andreas Diegues (esquerda), criador do Click Jogos, e Gui Barthel, diretor CEO do Grupo NZN) - Divulgação

 

Levantamento da consultoria espanhola Transactional Track Record (TTR) mostra que, até agosto, R$ 14 bilhões foram injetados em companhias brasileiras pelos fundos de "private equity". A cifra já equivale a todo investimento feito no ano passado no país e há mais R$ 14 bilhões disponíveis em caixa para aplicar.

Os fundos não comentam seus movimentos alegando sigilo contratual, mas fontes do mercado confirmam algumas cifras. A norte-americana Advent finaliza a captação de um fundo de US$ 2 bilhões. Outra norte-americana, a Carlyle - que aplicou em fatias de firmas como RiHappy e Tok&Stok por meio de fundo levantado em 2010 -, está captando cerca de R$ 1 bilhão no país. O Gávea Investimentos, criado pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e controlado pelo JP Morgan, conclui a captação de um fundo de US$ 1,1 bilhão. Em agosto, o Pátria - no qual a gigante norte-americana Blackstone detém fatia de 40% - anunciou novo fundo de US$ 1,8 bilhão. A expectativa é que BTG e Vinci Partners também levantem recursos no fim do ano.

- O private equity é muito diferente do investimento em Bolsa ou em renda fixa. Esse investidor está de olho no longo prazo. Ele não está muito preocupado com o resultado dessas eleições nem com qual será o avanço do PIB este ano, mas, sim, com a perspectiva do Brasil daqui a dez anos - afirma Fernando Borges, presidente da Associação Brasileira de Private Equity (ABVCAP).

Esse tipo de investimento ainda é pequeno no Brasil e equivale a 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos EUA, por exemplo, está em 1% do PIB; em Israel, atinge 1,5%. Mas o segmento cresce 20% ao ano por aqui e já há um estoque de R$ 100 bilhões investidos. Os fundos recém-lançados são resultado de um novo ciclo de captação, uma vez que os maiores existentes hoje foram levantados em 2010 e 2011 e já estão todos aplicados. Mas, apesar do foco no longo prazo, o marasmo econômico acaba exercendo alguma influência no segmento.

- Os investidores estão mais seletivos com os gestores que escolhem - admite Borges.

Uma fonte também lembrou que alguns valores estão menores que há três anos: o Gávea, por exemplo, captou fundo de US$ 1,9 bilhão em 2011. A associação latino-americana do segmento, a Lavca, proteja captação total de US$ 8 bilhões neste ano no continente - contra os US$ 10 bilhões levantados só no Brasil no ciclo anterior. Segundo o gestor, que pediu para não ser identificado, o pessimismo está concentrado em investidores privados, como famílias com grades fortunas.

- A visão do empresário brasileiro sobre a economia é ruim, por isso o investimento privado cai. Já do lado institucional, como bancos e fundos de pensão, ainda há apetite - afirmou.

Entre as aquisições, os estrangeiros são investidores de peso e olham especialmente para empresas médias, com faturamento de até R$ 200 milhões por ano, com atuação ligada à internet. Mas não há distinção de setor, com negócios da área da saúde à de infraestrutura. Estima-se que há 20 mil companhias locais com potencial para receber recursos.

- Não temos foco definido em setor específico. Procuramos empresas médias que possam apresentar crescimento expressivo nos próximos quatro, seis anos - diz Fábio Maranhão, sócio do Axxon Group, um dos líderes de private equity no Brasil, que desde 2001 já investiu R$ 800 milhões em 12 empresas nacionais e tem mais R$ 400 milhões para aplicar.

No início do mês, o Axxon comprou a MGX, de Eike Batista, que tinha a concessão da Marina da Glória. A aquisição se deu por meio da BR Marinas, que também tem recursos do Axxon. O valor do negócio não foi revelado. No início de agosto, o Axxon também ganhou destaque ao vender a rede de lojas de produtos saudáveis Mundo Verde, que controlava desde 2009.

- Essa é a estratégia desses fundos. Comprar, reestruturar, expandir, inclusive abrindo o capital da empresa na Bolsa. Depois, vendem a companhia com um bom lucro. O Brasil está atraindo esse capital pela sua fama de ter bons empreendedores - afirma Wagner Marques Rodrigues, da consultoria TTR.

Rodrigues lembra que, mesmo com a economia mais fraca, os investidores estão de olho é no potencial de retorno da empresa nos próximos anos. Além disso, nesse cenário de Bolsa depreciada, o valor das empresas também acaba ficando mais baixo, já que o pregão acaba sendo uma espécie de termômetro do preço. Isso facilita a compra por fundos.

- Apesar do crescimento baixo, o ano é muito interessante para investir em segmentos de consumo de nicho, que apresentam grande potencial de crescimento - conta Patrice Etlin, sócio-gerente do fundo Advent, sem comentar sobre suas captações.

Em agosto, o Advent adquiriu fatia da Cataratas do Iguaçu S.A., que opera parques nacionais. Em dezembro, havia comprado parte da grife Dudalina.

Para o empresário brasileiro, a entrada de recursos é positiva, mas normalmente eles perdem o comando do negócio, já que esses investidores preferem comprar a posição majoritária da companhia. Com isso, têm poder para colocar seu time em campo e implantar uma gestão mais profissional. O prazo médio de venda da empresa, depois da injeção de capital, é de seis anos no Brasil e o retorno pode ser bem generoso. Na média, calcula-se que um dólar investido pode se transformar em US$ 20 depois.

Há duas semanas, os fundos deram mais uma tacada no Brasil. O H.I.G. Capital, que gere US$ 15 bilhões no mundo, completou seus investimentos em duas empresas de mídia digital no Brasil: a Click Jogos, "site" com 20 mil jogos, e o Grupo NZN, líder em conteúdo digital em tecnologia, entretenimento e estilo de vida. Como parte da operação, as duas empresas serão fundidas.

- Os recursos do H.I.G. vão financiar uma expansão mais rápida da companhia. Em quatro anos, nossa expectativa é lançar ações na Nasdaq (a Bolsa de empresa de tecnologia nos EUA) - diz Gui Barthel, CEO do Grupo NZN.

A gestora Rio Bravo, do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, está terminando a captação de fundo que aplicará R$ 250 milhões, sobretudo em varejo. O foco é Nordeste.

- É um nicho muito interessante. Menos de 2% dos investimentos são feitos aqui. Por isso, nem participamos de processos competitivos. Abordamos as empresas diretamente - diz Luiz Medeiros, da Rio Bravo.

 

O Globo - http://oglobo.globo.com/economia/fundos-apostam-cada-vez-mais-no-futuro-das-empresas-14070865


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