TTR In The Press

O Jornal Económico

March 2020

Fusões e aquisições superaram os 13 mil milhões em 2019

À parte do imobiliário e a tecnologia, que registaram o maior número de operações, houve ainda espaço para, pelo menos, 46 negócios no setor financeiro, mais 18% do que no ano anterior.

O saudosismo poderá ser a palavra de ordem no mercado de fusões e aquisições (M&A) em Portugal, depois de dois anos sui generis com aumentos significativos em número e valor de operações anunciadas. Em 2019, o pódio das transações foi ocupado pela venda de 49,9% da fibra ótica da Altice à Morgan Stanley (1,5 mil milhões de euros), pela venda das centrais hídricas da EDP ao consórcio que reúne a Engie, o Crédit Agricole Assurances e a Mirova (2,2 mil milhões de euros) e pela conclusão da compra da NovEnergia (dona da Generg) pela Total Eren (mil milhões de euros). Estes negócios ajudaram a que o país fechasse o ano com 427 negócios, o que representa um aumento de 15% comparativamente ao mesmo período de 2018. Já o valor total – tendo em conta os deals que tornaram público o montante – atingiu os 13,4 mil milhões de euros, mais 17,9% em termos homólogos, segundo os dados do diretório internacional Transactional Track Record (TTR).

Entre janeiro e dezembro de 2019, destacaram-se as operações de compra e venda no imobiliário (91 negócios anunciados) e na tecnologia (62). “Terá sido certamente o resultado do forte aumento da procura em Portugal que já vinha de trás e que resulta da confluência do forte crescimento da notoriedade de Portugal no mundo (nomeadamente como destino turístico), com o efeito dos vários programas públicos de atração de investidores estrangeiros bem conhecidos, como os golden visa e o pacote fiscal para o Residente Não Habitual”, explica ao Jornal Económico (JE) Duarte Schmidt Lino, sócio da PLMJ.

Na opinião de João Sousa Leal, partner da consultora KPMG, este fenómeno no imobiliário – ainda assim, com menos 5% de transações do que em 2018 – está relacionado com a ideia por parte dos investidores de que Portugal ainda proporciona níveis de rentabilidade e risco mais competitivos do que no resto da Europa. “A elevada liquidez proporcionada pelos bancos centrais nos últimos anos tem levado a que os investidores no sector imobiliário tenham cada vez mais dificuldade em encontrar ativos que proporcionem níveis de rentabilidade adequados para remunerar os seus acionistas. Portugal, apesar das yields estarem a reduzir de ano para ano, ainda proporciona rendimentos superiores nesta classe de ativos, assinala, em declarações ao JE.

Inclui-se aqui a sociedade Invesco, que comprou aos tailandeses da Mint três hotéis em Lisboa) o Tivoli Avenida Liberdade Lisboa, o Tivoli Oriente Lisboa e o Avani Avenida da Liberdade) por 313 milhões de euros – uma transação que seguiu logo para o ‘Top 10’ do TTR. Para Paulo Trindade Costa, sócio da Vieira de Almeida, os elevados valores associados ao setor imobiliário justificam-se pela “quase inexistência de investimento nos anos anteriores”, consequência da crise financeira de 2008, à qual se seguiu uma elevada subida da procura. Ademais, este segmento de atividade foi impulsionado pelas baixas taxas de juro e pela “recuperação do sistema financeiro, que manteve o apetite pela concessão de crédito imobiliário, a consolidação do mercado turístico (aumento exponencial da oferta hoteleira, do fenómeno do short-term rental e o renascimento de alguns grandes projetos) e o aumento da capacidade de atração de novos residentes estrangeiros”. Em relação às empresas de tecnologia, podem agradecer o dinamismo à Web Summit, aos recursos qualificados dos portugueses em TI e aos custos de instalação competitivos comparativamente a outras geografias, segundo o mesmo jurista.

Houve ainda espaço para, pelo menos, 46 negócios no setor financeiro em 2019, o que significou um acréscimo de 18% face ao ano anterior. Na lista está por exemplo a italiana Generali, que chegou a acordo com a Apollo para comprar a totalidade da Seguradoras Unidas (600 milhões de euros) – uma operação que ficou fechada já no início deste ano. Na energia, o destaque foi ainda para a Fundação Calouste Gulbenkian, que concluiu a venda da petrolífera Partex aos tailandeses da PTTEP por cerca de 575 milhões de euros.

As mais de quatro centenas de operações de M&A contaram com dezenas de figuras por trás de cada uma delas. Além dos rostos das empresas, as sociedades de advogados e bancos de investimento apoiaram, durante meses, as transações dos seus clientes – alguns, mais do que outros. Na assessoria legal sobressaiu a Morais Leitão, a Uría Menéndez – Proença de Carvalho e a Cuatrecasas (por valor de operações apoiadas juridicamente), a PLMJ, a Antas da Cunha e a Garrigues (por número de operações apoiadas juridicamente). Do lado financeiro, a tabela da TTR foi encabeçada pela Arcano Partners, a Mediobanca e pelo Citigroup (em valor), o Haitong Securities, a Crowe Portugal e novamente a Arcano Partners (em número).

Investidores, empresas e assessores não previam é que uma pandemia mundial (Covid-19) pudesse travar o bom prenúncio de 2020 (ver artigo sobre M&A publicado no JE de 10 de janeiro). Os especialistas agora contactados não alteram circunstancialmente as suas previsões, mas mostram menos certezas de que todas as operações anunciadas no final de 2019 avancem. “Estamos a começar a ver o atual surto pandémico a ser citado por vários intervenientes como um dos principais impulsionadores para adiar ou cancelar várias transações de M&A que já se encontravam em fases avançadas de due dilligence ou bidding, nomeadamente em operações que envolvam intervenientes de vários países”, afirma Paulo Garrett, managing partner da Globalwe, que acrescenta que esta situação evoluiu desde o início do ano, quando se verificavam constrangimentos só nas transações de empresas com ligações diretas ou indiretas à China.

Aliás, até o fim de fevereiro foram identificadas 52 transações de empresas portuguesas, o que representa uma diminuição de 12% em relação ao mesmo período de 2019. Só o valor total movimentado é que somou 3,03 mil milhões de euros, mais 39% em termos homólogos.

Maria João Mata e Catarina Santinha, da Miranda & Associados, acreditam que a vontade dos investidores em concretizar operações depende da fase em que estas mesmas se encontram, da capacidade que as empresas tiveram de criar “almofadas financeiras” nos últimos anos, da resposta dos governos e da própria duração da pandemia de Covid-19. “Há transações em curso, anunciadas ou não, algumas até já com contratos assinados e que estão em fase de verificação de condições, obtenção de autorizações ou similares, e outras em fase pré-formalização, cujo financiamento se encontrava já delineado e concretizado, que, dificilmente, serão postas em causa”, garante a sócia e associada. Logo, acreditam que “a esmagadora maioria” das grandes transações anunciadas entre o final de 2019 e o início de 2020 avançarão – apenas o casamento Cofina/Media Capital parece estar mais comprometido. Ana Sofia Batista e Manuel Santos Vítor, sócios da Abreu Advogados, são da mesma opinião e dão outro exemplo: “Os mercados de Angola e Moçambique, muito importantes para nós, não estão afetados por este problema”. “As dificuldades de mobilidade são também relevantes considerando que, na maior parte dos casos, continuam a predominar as operações de investimento estrangeiro. Os investidores terão de lidar com as dificuldades dos seus países de origem e em Portugal. Veremos nos próximos dias e semanas as operações que serão suspensas, para serem retomadas mais adiante, e as que terão de ser canceladas”, realçam os advogados.


Source: O Jornal Económico - Portugal 


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