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Broadcast

July 2020

Investimentos de risco crescem no Brasil durante 1SEM20 mesmo com crise e pandemia

A pandemia do novo coronavírus trouxe efeitos econômicos devastadores para a economia brasileira no primeiro semestre de 2020, com a maior parte dos principais indicadores macroecônomicos sofrendo tombos por conta das medidas de isolamento social impostas para impedir o avanço da doença. Em meio a esse cenário, levantamento da consultoria Transactional Track Record (TTR) mostra que o número de investimentos em capital de risco, chamado venture capital, por outro lado, aumentou na comparação com o mesmo período de 2019.

 Ao todo, foram 131 operações de venture até o fim de junho, crescimento de 17% em relação ao ano passado. O valor movimentado somou R$ 3,4 bilhões, queda de 1,97% com 2019. Foram 84 transações (R$ 1,002 bilhão) feitas por fundos brasileiros e 47 (R$ 2,407 bilhões) nos chamados investimentos cross-border, de fundos internacionais aplicando em empresas no território nacional.

 Wagner Rodrigues, diretor responsável pelo levantamento da TTR, explica que os modelos de negócios das empresas que recebem investimentos de venture, são digitais, o que pode explicar o otimismo dos fundos no primeiro semestre. "Eles percebem o grande potencial destes negócios, especialmente em um momento como o atual, no qual a migração de negócios do mundo físico para o virtual é em muitos casos a única forma de muitas empresas sobreviverem", diz.

 Os fundos consultados pelo Broadcast destacam que a resiliência dos investimentos em venture não impressionam e chamam a atenção para dois aspectos: habitualmente não são correlacionados ao desempenho macroeconômico do País e a natureza da pandemia fez com que fossem acelerados processos tecnológicos que já eram parte da linha de frente das startups que recebem os aportes.

 "A natureza de venture capital, em geral, não é relacionada a questões de macroeconomia porque você olha pra um investimento que tem um horizonte de tempo muito grande, situações que são completamente novas", diz Manoel Lemos, sócio-diretor da Redpoint e.Ventures, fundo que respondeu por cinco transações, no valor total de R$ 203 milhões, pela pesquisa da TTR. "Não dá pra correlacionar e falar que aumentou por causa da crise porque muitas das transações já vinham sendo negociados, o que é bom é que eles não pararam no meio do caminho. Isso mostra que a convicção dos investidores segue alta."

 "O que a covid-19 está trazendo, em vários aspectos, não é uma transformação do mundo e sim uma aceleração, às vezes brutal, de tendências que já estavam aí", explica Marcio Trigueiro, sócio-diretor da e.Bricks Ventures, com oito transações totalizando R$ 182 milhões, no levantamento da TTR. "Se pegar um portfólio de private equity, ou mesmo de empresas listadas em Bolsa, e um de venture capital, assumindo que todos tenham a mesma qualidade, é mais fácil que o de venture esteja indo bem porque está na linha de frente dessas acelerações."

 Clovis Meurer, conselheiro e ex-presidente da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), também vê outro motivo para a manutenção dos investimentos em venture: a queda na taxa Selic, atualmente em 2,25%, menor valor histórico. "A Selic já vem caindo há alguns anos e aumentou a procura dos investidores por aplicações que gerem um retorno maior, mas que exigem maior tomada de riscos, e o venture está neste cenário", explica. Lemos, da Redpoint, concorda e vê uma tendência de crescimento na busca de investimentos em venture por investidores institucionais.

 O câmbio na faixa de R$ 5 também ajuda na procura por investimentos em venture, principalmente de fundos estrangeiros, que veem sua capacidade de investimento multiplicada, mas Marcio Trigueiro acredita que isso é um fator colateral. "Quando você faz um investimento em venture capital o teu horizonte de tempo é de seis a oito anos e nesse período é muito complicado prever o câmbio, especialmente no Brasil", comenta.

 "Fazendo uma análise geral, o que estamos vendo é que o que todo mundo achou que ia vir de muito ruim para as startups não aconteceu da maneira que se esperava, foi menos impactante do que a gente imaginava", diz Lemos. "Não dá pra ficar 100% tranquilo ainda porque a gente não sabe por quanto tempo isso vai durar a crise da covid-19, o que pode vir de segundas ondas de impacto."

Tendências

 Empresas de tecnologia continuam sendo a principal procurada por fundos de investimento em venture, com o levantamento da TTR apontando 80 aportes (aumento de 31% em relação a 2019) no primeiro semestre. Mas o grande destaque são startups do setor de saúde, com 18 aportes, crescimento de 200% se comparado com o mesmo período de 2019. Os fundos acreditam que empresas que lidem com soluções dos problemas que a pandemia trouxe vão se destacar nas rodadas de investimento no segundo semestre.

 "No início do ano, fizemos investimento em uma empresa de telemedicina, antes da pandemia, e obviamente não fizemos porque a gente sabia o que ia acontecer", diz Trigueiro. "Quando veio a covid-19, a empresa cresceu muito, mas não é que tivemos a visão do que ia acontecer", continua. "Olhando o momento atual, estamos com mais apetite de investir em empresas que vão nesse caminho. Acho que tem muita coisa na linha de educação, serviços digitais, tudo o que viabiliza e-commerce."

 Manoel Lemos fala da startup Memed, especializada em prescrições médicas digitais que faz parte do portfólio da Redpoint. "Os médicos já usavam bastante a solução, mas ela ainda tinha uma questão regulatória porque pra ter valor em uma farmácia ainda era necessário imprimir a receita e carimbar", explica, dizendo que a pandemia fez o trâmite burocrático ser acelerado e hoje a prescrição digital é aceita.

 Clovis Meurer, da Abvcap, também vê soluções do agronegócio como uma boa tendência para o segundo semestre. "No campo não vimos paralisações por conta da pandemia e as exportações continuam muito fortes, o que é campo fértil para sustentar os investimentos em empresas que agreguem valor no setor", comenta.

 "O Brasil tem uma taxa de desafios grande, o que torna o investimento em venture bastante promissor porque tem escala e ao mesmo tempo esse alto número de ineficiências e desafios", pondera Trigueiro. "Isso não está ligado ao ciclo econômico, não é importante se o Brasil vai crescer ou retrair, porque há demanda por soluções inovadoras. Vamos continuar crescendo muito mesmo se a economia não vá pra frente."


 


Source: Broadcast - Brazil 


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