TTR In The Press

Monitor Mercantil

January 2022

Três perguntas: as perspectivas do mercado de fusões e aquisições

Conversamos com Fernando Kunzel e William May, sócio-fundador e sócio, respectivamente, na L6 Capital Partners, sobre o mercado brasileiro de fusões e aquisições em 2021 e suas perspectivas para 2022. A L6 Capital Partners é uma empresa de assessoria e consultoria focada em fusões e aquisições.

Nesta entrevista, trataremos o termo “fusões e aquisições” pela sua sigla em inglês “M&A” (mergers and acquisitons).

Qual a avaliação da L6 sobre o mercado brasileiro de M&A em 2021? Quais são as perspectivas para 2022?

Willian May – Em 2021, tivemos o melhor mercado de M&A dos últimos anos. Segundo o Transactional Track Record (TTR), até o final de novembro foram anunciadas mais de 2.200 operações de fusões e aquisições, 50% a mais que em 2020. A corrida das empresas pela digitalização trouxe uma abundância de aquisições, principalmente no setor de TI. Além disso, grandes empresas de serviço e consumo, que se viram na obrigação de melhorar a jornada do cliente, foram às compras em busca de novas tecnologias, formas de pagamento ou logística diferenciada. Acredito que essa corrida pela digitalização continue. A tendência é que 2022 seja tão bom quanto 2021.

Além disso, muitas empresas deixaram de fazer IPO em 2021 por conta do “fechamento de janela” do mercado. Se tivermos um sinal de melhora na economia neste ano, ou uma pequena abertura dessa janela, onde o mercado sinaliza que pode pagar pelas ações o preço desejado pelos acionistas das companhias, muitas empresas vão reforçar o caixa em novas rodadas de abertura de capital e, consequentemente, manter muito aquecido o mercado de M&A.

Fernando Kunzel – Na linha do comentado pelo Willian, o mercado de capitais brasileiro vem ficando cada vez mais maduro, e os empresários estão cada vez mais interessados no assunto M&A. Eles começam a entender o funcionamento desse tipo de processo, sendo que muitos já compreendem que vender uma empresa pode representar uma oportunidade e que não devem fazer esse tipo de movimento apenas por necessidade. Esta é uma grande diferença para operações bem sucedidas. Se pensadas estrategicamente e realizadas em um bom momento da companhia, quando estão apresentando resultados robustos e demonstrando real potencial de crescimento, tendem a ocorrer grandes e belas transações.

 

Quais são os setores que mais vem se destacando em M&A nos últimos anos no Brasil? Eles devem continuar a se destacar em 2022 ou podemos ter novidades?

FK – Os principais destaques nessa onda são saúde, educação, TI, energia e internet. Esses mercados, especialmente saúde e educação, são resilientes em tempos de crise, o que é especialmente importante neste momento, com a crise atingindo inúmeros setores. Além disso, a estabilidade prevalece também em outras épocas, o que indica que são setores bons para investimentos a longo prazo. Dentro do segmento de saúde, uma aposta para o futuro é o segmento de homecare (cuidado de enfermos em casa), que possivelmente cresceu ainda mais por conta da pandemia. Já no setor de energia, o foco é nas energias sustentáveis. A aposta é que num futuro próximo, a tendência seja a eólica offshore, sendo que hoje a queridinha tem sido a energia solar, com a queda dos impostos para placas em casa.

WM – No setor de TI, nós vemos o segmento de software liderar o volume de transações, seguido por mídia e serviços de TI. O investimento em tecnologia é crescente e a demanda vem de todos os lados. Acompanhando isso, a internet também se transformou em um serviço essencial, seja trabalhando de casa ou no dia a dia. É por isso que as fusões e aquisições de provedores de internet tendem a continuar crescendo. Outro fator para esse aumento é o avanço da Internet das Coisas (IoT), que está revolucionando diferentes setores, a exemplo da agricultura inteligente.

Outro mercado que apresenta a tendência de continuar crescendo, apesar de muito pulverizado, é o pet. São quase 50 milhões de domicílios contendo um pet, o que puxa o mercado, o consumo, a criação de novas tecnologias e soluções. Sem dúvida, essa tendência vai continuar no próximo ano.

 

O cenário econômico impacta nesse mercado?

FK – Com certeza teremos um ano de desafios para o setor por algumas razões. A primeira em função do cenário político que viveremos referente às eleições presidenciais no final do ano, onde muitas incertezas podem impactar esse segmento. Outro ponto que devemos estar atentos é o movimento do Fed relacionado a elevação da taxa de juros americana, que pode levar investidores globais a reverem seu custo de capital, levando a uma nova precificação dos ativos, principalmente em mercados como o Brasil. De toda forma, mesmo com essas incertezas, temos muitos segmentos com altas oportunidades de crescimento/escalabilidade e que, com certeza, serão aproveitados por investidores estratégicos e financeiros.

WM – Sem nenhuma dúvida, toda incerteza traz inseguranças, tanto para empresas quanto para investidores. Vimos os juros saindo de 2% para quase 10% em 2021. O acesso ao crédito fica prejudicado, a renda fixa, mais atrativa, e os investidores, mais seletivos. No entanto, as empresas vão continuar buscando novas formas de funding para crescimento de seus negócios, e setores, que possuem espaço para crescimento, devem continuar se aproveitando. Na corrida da digitalização, setores essenciais como educação e saúde, por exemplo, devem continuar num ritmo acelerado de consolidação. O Brasil ainda tem um gasto per capita em saúde bem abaixo de países menos desenvolvidos e a tendência é que mais investimentos aconteçam no setor.


Source: Monitor Mercantil - Brazil 


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